A pergunta foi lançada: - O que fazer com essas Marias?
O ator, atônito, responde de súbito: - Matá-las! - como se
ainda estivesse sob o efeito devastador da personagem. Depois de uma longa
pausa ele desfaz o sorriso do rosto e diz: - Não sei!
A cidade se descortina e revela suas Marias. No palco, a
projeção da noite embriaga a alma, que aceita de bom grado o leito hostil. O
olhar pardo clama pelo colorido esquecimento de si. Impossível, no entanto, já
que a alienação passageira necessita da mortal manutenção do inebriante líquido. O gole inexistente sufoca
o grito, retirando também as palavras da plateia. Muda, ela sorri desconcertada, como se questionasse o próprio sentido do riso. E não há
sentido plausível para o riso diante da trágica realidade.
O Pranto de Maria Parda (texto de Gil Vicente e Direção de Moncho Rodriguez), revela o avesso de uma estética urbana traçada em linhas frágeis, que impedem o coroamento da diversidade humana. Um monólogo, brilhantemente interpretado por Gilberto Brito, que provoca uma inquietude intensa, até libertar a consciência da estagnação diante das mazelas cotidianas.
[Texto e Fotos de Ana Candida Carvalho]
______________________________________
Para quem quiser conferir trata-se do 20º Concurso Nacional de Monólogos - Ana Maria Rêgo - Prêmio Lorena Campelo que está acontecendo até o dia 10 de agosto em Teresina (PI), no Teatro do Boi e no Teatro João Paulo II.
Nenhum comentário:
Postar um comentário