quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Manto pardo em noite embriagada

A pergunta foi lançada: - O que fazer com essas Marias?

O ator, atônito, responde de súbito: - Matá-las! - como se ainda estivesse sob o efeito devastador da personagem. Depois de uma longa pausa ele desfaz o sorriso do rosto e diz: - Não sei!

A cidade se descortina e revela suas Marias. No palco, a projeção da noite embriaga a alma, que aceita de bom grado o leito hostil. O olhar pardo clama pelo colorido esquecimento de si. Impossível, no entanto, já que a alienação passageira necessita da mortal manutenção  do inebriante líquido. O gole inexistente sufoca o grito, retirando também as palavras da plateia. Muda, ela sorri desconcertada, como se questionasse o próprio sentido do riso. E não há sentido plausível para o riso diante da trágica realidade.

O Pranto de Maria Parda (texto de Gil Vicente e Direção de Moncho Rodriguez), revela o avesso de uma estética urbana traçada em linhas frágeis, que impedem o coroamento da diversidade humana. Um monólogo, brilhantemente interpretado por Gilberto Brito, que provoca uma inquietude intensa, até libertar a consciência da estagnação diante das mazelas cotidianas.  


[Texto e Fotos de Ana Candida Carvalho]





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Para quem quiser conferir trata-se do 20º Concurso Nacional de MonólogosAna Maria Rêgo - Prêmio Lorena Campelo que está acontecendo até o dia 10 de agosto em Teresina (PI), no Teatro do Boi e no Teatro João Paulo II.

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