MODA: Relação Corpo e Identidade; Estética e Beleza

Por Camila R. Carvalho

As pessoas são o resultado da soma do corpo mais da consciência, são produtos e produtoras de si mesmas e da sociedade, no sentido de que o ser humano é um ser que se constrói através da vida em sociedade e se auto produz o tempo inteiro.

Figura 1: Tudo muda o tempo todo

Logo, a moda não é um fenômeno apenas social, mas psicológico e histórico. Apsicossociologia da moda surge como uma psicologia do existir que decorre da necessidade humana de identificar-se, uma vez que, a vestimenta é uma forma de linguagem na qual o homem comunica ao mundo a sua forma de ser, a sua cultura e a sua posição na escala da sociedade em determinado momento histórico.

Isso acontece porque existe a necessidade latente de se usar o corpo como expressão do individuo uma vez que, o corpo é o espaço físico onde o individuo em sua subjetividade está inserido.

Assim, ao analisar elementos históricos e culturais de diferentes etnias é possível verificar a ligação inerente das transformações do corpo com os elementos culturais locais, como exemplo disso podemos citar o costume de deformação dos pés das chinesas para torná-los pequenos ou o costume de algumas tribos na África e em algumas regiões da Ásia de estender o pescoço das mulheres utilizando argolas de metal.

Figura 2: Mulheres Girafas

Figura 3: Pés chineses

Dessa forma, conclui-se que o homem expressa através de seu corpo a cultura de seu povo, o que leva ao pensamento reflexivo de que o corpo é a materialização simbólica do ser, na qual se justapõe fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais; e o corpo, então, é tido como elemento que é construído no tempo por cada sociedade.

Dito isso, verifica-se que é a cultura que oferece as formas de interpretar as sensações e gera no pensamento a percepção estética do que é belo.

O termo estética, etimologicamente, significa a faculdade de sentir e perceber pelos sentidos.

No entanto, a noção de beleza e as qualidades que ela envolve estão relacionadas às questões culturais, filosóficas e psicológicas e não passam somente pelos sentidos, levando em consideração também as relações históricas da sociedade em que o individuo vive, por exemplo, em algumas culturas a escarificação do corpo é uma construção do corpo que para aquela comunidade é tido como belo, já para a nossa cultura ocidental moderna esse tipo de flagelação é considerado feio e repulsivo.

Figura 4: Escarificação

Assim, é preciso para a compreensão da beleza que se faça uma análise dos signos culturais de modo a verificar o que cada um representa para cada ser histórico.

A finalidade de se definir o que é beleza vem da percepção e da provocação do outro, uma coisa para ser bela tem que ser sujeita à admiração; definir beleza é apontá-la como elemento imbuído de significação que visa à singularidade, pois o belo nunca terá a mesma cara e nem os mesmo expectadores, ou seja, como o tempo a concepção do que é belo muda e haverá novamente a busca pela singularidade da beleza e assim nasce o que é chamado de estilo e conseqüentemente a moda.

A ornamentação do corpo com o sentido estético existiu desde a antiguidade como expressão do desejo das pessoas de expressar-se através do que se veste, no entanto, com o cristianismo ocorreu a separação irreconciliável entre o corpo e a alma, havendo então uma negação do corpo em favor da elevação do espírito, mas com a pós modernidade adveio a exteriorização da personalidade e do conteúdo dos sujeitos através da moda, então o corpo, além de ser fabricado pela cultura dos povos, passa a ser fabricado pela moda e a ser visto como forma de comunicação não somente da cultura e sim do que se é, do que gosta.

Figura 5: Ilustração Romero Brito

REFERÊNCIAS:

FLÜGEL, J. C. A psicologia das roupas. Traduzido por Antonio Ennes Cardoso. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1966, p. 9-45.

BRANDINI, Valéria. Vestindo a rua: moda comunicação & metrópole. In Revista Fronteira: estudos midiáticos, Vol. IX, nº1, jan/abr, 2007, p. 23 a 33.